A camisa verde de botão toda engomada e os sapatinhos marrons não combinavam com a expressão apreensiva do menino. O garoto pulou o pequeno portão seguido por seu amigo, que em nada se parecia com ele. Descalço e encardido, como quem acabou de descer por uma chaminé, o comparsa o acompanhava de perto, ofegante.
-Tem certeza que vai entrar na casa? Pode ter alguém lá dentro – ponderou o aliado.
-Deixa comigo. Fica aqui, que eu vou sozinho.
Decidido e quase que na ponta dos pés, o menino se aproximou da casa bem devagarinho e pulou um tanto desajeitado em direção à janela aberta. Passou meio corpo para dentro da residência e agora fazia força para entrar de vez, com as pernas balançando no ar.
Conseguiu! O amigo imaginou uma queda desastrosa no interior da casa, mas isso não importava mais. O triunfo dos dois estava próximo. O assecla se abaixou e foi rumo à árvore do grande quintal. O céu estava muito fechado, e ele começava a imaginar se a chuva atrapalharia a ação.
E então aconteceu. Barulhos altos dentro da casa. Golpes. Gritos! Uma briga estava acontecendo lá dentro, e o plano infalível da dupla parecia ter falhado mais uma vez.
Um grande estampido soou pela rua quando o menino escancarou a porta da frente, cambaleando, correndo e berrando, o rosto branco como cera e um olho roxo.
-COLE! COLE QUE A DENTUÇA VAI QUEBLÁ A GENTE, CASCÃO!
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