Você chega em casa tarde da noite, desliga o carro e entra em casa. Ao acender a luz, um pequeno vulto corre pela parede e se esconde atrás do sofá. Era uma barata.
Tendo nojo, medo ou mesmo nenhuma dessas coisas, você imediatamente pensa num jeito de se livrar daquele inseto. Pode ser com um sapato, com veneno, ou, caso você goste de um pouco de caos, com fogo. Não há como você e a criatura habitarem o mesmo ambiente.
A lógica é simples. Se tivéssemos de explicar didaticamente ao inseto o motivo do ataque, seria algo como: Você vai morrer porque eu não te entendo e não sei o que você vai fazer ou o motivo de estar na minha casa. Você vai morrer porque é uma ameaça pra mim.
Talvez, se você pudesse conversar e saber quanto tempo uma aranha vai ficar no canto do banheiro pra caçar alguma coisa e ela te desse a certeza de que não iria te atacar ou se esconder embaixo do seu travesseiro, não haveria o instinto de querer acabar com o inseto a qualquer custo.
Esse instinto é algo que existe dentro de todo ser humano, e serve para nos proteger de coisas que não podemos controlar, seja o que for. É um mecanismo de defesa.
Mas, e os outros que convivem conosco? Será que damos tratamento de inseto a quem está perto da gente, sem nos darmos uma chance de entender de verdade essa pessoa?
Quantos você já “matou” com base nessa lógica? E quantos já te mataram sem se esforçarem pra te entender, pra saber como você pensa? “Você vai morrer porque eu não te entendo e não sei o que você vai fazer”.
Independente do grau dos nossos relacionamentos, seja com familiares, amigos de infância ou completos desconhecidos, a tolerância pode fazer as coisas diferentes, com certeza. Muitas vezes, somos insetos uns para os outros, e tentamos matar sem entender quem não nos entende e quer igualmente nos matar, num infinito pedra-papel-tesoura.
Só que tem um outro lado.
Não é preciso ser um especialista em entomologia pra achar algo de fascinante nos insetos. Qualquer documentário na sua plataforma de streaming favorita pode te mostrar isso.
Podemos nos entender. Eu aperto esses botões aqui e você consegue ler aí. Pode ser que a gente não concorde em tudo ou não goste de tudo que o outro faz, mas enquanto existir essa curiosidade de “o que torna esse besouro diferente? Onde essa mariposa gosta de fazer casulo? Formiga dorme?”, fica mais fácil tolerar, mesmo que de longe.
Assim como a cadeia alimentar é inseparável do próprio ciclo da vida, nenhum ser humano é capaz de viver e ser completo por si só. Nós, todos os que nos servem e todos a quem servimos estamos numa mesma colmeia.
Jamais saberemos as ideias e pensamentos de um minúsculo inseto, mas temos uma porta para o verdadeiro infinito que é a alma de quem nos cerca. Para pedirmos que abram, melhor do que uma chinelada é abrirmos antes as portas do nosso próprio infinito particular.
Toc toc
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