Poucos acreditam, mas eu mantenho esse físico esguio sem ir a uma academia.
Nem sempre foi assim. No auge dos meus 16 anos, decidi que seria uma boa ideia frequentar este ambiente de foco, força, fé e pura azaração.
Meses após meu conturbado início (assunto para outra conversa), eu continuava apto à invocação de esforços físicos repetitivos a fim de obter a hipertrofia muscular. Eu era a Alemanha e o mundo era um gol protegido pela zaga brasileira. Nada poderia impedir o meu 7 a 1 da maromba.
Confesso: Já fui um cara muito infantil (não sou mais. Sério. Que foi? Não me olha assim. Me deixa em paz, por favor. OK, VOCÊ VENCEU. Eu sou mais imaturo do que o Cirilo do Carrossel querendo xavecar a Maria Joaquina mesmo sabendo que isso é uma baita ideia errada), e como tal, uma das minhas principais fontes de entretenimento na época era promover a desordem em todos os locais possíveis junto com os amigos. Incluindo a academia que, segundo a definição de Platão, é um lugar e, se enquadrando como tal, é passível de ser um palco de altas bobajadas.
Resulta que, numa dessas empreitadas pelo riso, o objetivo dos galhofeiros era correr na esteira da forma mais esdrúxula possível, mas com uma expressão facial austera, carregada da mais absoluta sobriedade, a fim de averiguarmos as reações dos demais frequentadores. Uma ideia imbecil, se você me perguntasse hoje, mas que na época soou como uma nova era no humor nacional.
Na esteira ao meu lado, uma mulher que, de acordo com a minha percepção deveria ter entre 25 e 40 anos, fazia seu aeróbico inocentemente, enquanto eu corria com movimentos meio Jim Carrey, meio Jacaré do Tchan. O rosto sério, os movimentos esquisitos, a velocidade da esteira… isso tudo era muito para minha coordenação motora. Num lance imprevisto, tropecei no meu próprio pé e fui catapultado para cima da colega de maneira que eu mesmo, repassando a cena mentalmente, me pergunto se não estive em algum episódio do Chapolin. “Um monstro sagrado da babaquice”, diria o Craque Neto a meu respeito.
Não sei como, mas a tia era detentora da dádiva dos ninjas, de forma que meu cadáver arremessado sobre ela tal qual um projétil malicioso apenas roçou de leve em seu braço, sem nenhum dano causado. Meus ferimentos não foram no corpo, mas na alma. Daquele dia em diante achei melhor treinar um pouquinho antes do meu horário pra não ter de lidar com a vergonha de encontrar a mulher após minha clara tentativa de assassiná-la.
3 da manhã eu tava na porta da academia com o pote de whey debaixo do braço.
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