Uma experiência que estou gostando muito de fazer nesses tempos é ouvir música clássica no carro. Mas ouvir na altura do mais hediondo e inescrupuloso funk pancadão.
Entre buzinas e roncos de motor nas congestionadas ruas jundiaienses, as sublimes sinfonias chamam a atenção dos demais motoristas. Ninguém consegue acreditar que um de seus semelhantes está ouvindo clássicos atemporais da música ocidental em seu automóvel. É como se eu estivesse transgredindo a lei de que apenas canções com teor popozístico (segundo o dicionário Rafaurélio: adj. Relativo aos popôs ou obras musicais que fazem referência ao bailar das popozudas) são aceitáveis na etiqueta rodoviária. É a ojeriza humana sendo trucada (6, MARRECO!) pela delicadeza e maestria da arte.
A galhofa é ainda maior quando os motoristas indignados olham de rompante para meu veículo a fim de identificar o desaforado terrorista sonoro. Neste momento faço uma amadora, porém realística expressão de arrebatamento, enlevo e êxtase ao som de violinos, tubas e clarinetes. Um regozijo completo digno daquelas noveletas do SBT que você assiste escondido.
MC Guime ficaria desgostoso da vida ao saber que ao invés de executar faixas musicais dizendo que o Rafael “tapa tapa tá patrão”, que estou “contando os plaquê de 100” e que “sou o sonho de consumo da sua filha” a bordo de meu humilde, porém soberbo (e alheio a qualquer ostentação) Uninho 2006 duas portas, estou ouvindo Danse Macabre, Claire de Lune e os Concertos de Brandenburgo.
Parafraseando Ataíde Patreze, “simplesmente um luxo”.
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