Categoria: Pra descobrir

  • Toquei Heartbreak Hotel, do Michael Jackson

    Toquei Heartbreak Hotel, do Michael Jackson

    [youtube https://www.youtube.com/watch?v=bRflUTpbL3I&w=560&h=315]



    Heartbreak Hotel é uma música fantástica! Minha história com ela começou quando a ouvi e decidi ensiná-la a um dos meus alunos de contrabaixo, um garotinho muito talentoso de 10 anos.

    O recital da escola onde eu dou aula seria dali a poucas semanas, e meu aluno topou executar essa música, algo que foi muito corajoso da parte dele. As primeiras tentativas não foram lá das melhores, mas, o mais importante é que ele estava determinado, lapidou os detalhes em cada aula e tocou Heartbreak Hotel de cabo a rabo no dia da apresentação.

    Em sua autobiografia, o Michael diz que trabalhou muito nessa música. Ele queria compor algo que tivesse várias nuances diferentes, e descreve Heartbreak Hotel como uma de suas composições mais ambiciosas. Os irmãos Jackson já não eram novidade há bastante tempo, e o MJ queria um disco que colocasse eles de volta no topo. A persistência não era apenas por “olha que bonito como ele não desiste”. Era uma necessidade.

    Esse ano aqui eu decidi investir de vez na criação de conteúdo, e quando pensei em qual música gravar pra começar 2019 daquele jeito, não tive dúvidas em escolher essa, por tudo o que representa pra mim com toda essa questão da persistência, seja pra tocar uma música na frente da família e dos amigos no final do ano ou para mostrar a si próprio que “a sua época” ainda não acabou.

    O fantasminha do Mario que aparece no vídeo não tem qualquer relação com a letra, mas tive essa ideia por causa do clima fantasmagórico da música em alguns pontos e pra demonstrar que podemos domar qualquer situação que nos dê medo. Não importa o quanto algo nos perturbe, sempre é possível dar a volta por cima (como no final do clipe).

    Heartbreak Hotel nunca foi um super clássico do Michael em comparação com os hits que todo mundo conhece, mas gosto de lembrar dela como um início, como uma das músicas que demonstravam a visão artística dele quando ainda eram apenas ideias em sua cabeça.

  • Romantismo Sofista na era da Selfie – Ato 2

    Romantismo Sofista na era da Selfie – Ato 2

    A noite cai sobre a cidade
    Luz a luz, cada janela se acende
    Uns descansam, outros matam a saudade
    Pedindo que o tempo passe mais lentamente

    A noite cai sobre a cidade
    E por trás de cada luz há uma história
    Até nas esquinas, com aqueles pedindo caridade
    Todos carregam esperança, medo, humildade e vanglória

    A noite cai sobre a cidade
    E é difícil entender
    Cada universo particular em sua singularidade
    O tudo de todos, a busca pelo transcender

    Árdua tarefa que ocupa minha mente
    Maior que a compreensão, me coloca à sua mercê
    Ando rua por rua, numa busca paciente
    Pela rua que me leva até você

    De que vale ao desconhecido prestar culto
    Saber o que esconde cada alma, a verdade crua
    Saborear sozinho o vinho da sabedoria, vivendo feito vulto
    Quando de todas as janelas, a que me inquieta é a sua?

    Sua ausência obscurece meu mundo
    Seu encanto me enleva e me deixa disforme
    Mas na moral, custa me responder quando pergunto
    kk eae mina tudo 🔝?

  • Águas passadas

    Águas passadas

    No dia em que morreu, o Capitão estava andando por seu navio e contemplando o mar. O mar era de um azul muito vivo, que enchia os olhos do homem e lhe fazia pensar que não poderia haver vida melhor do que aquela, onde o horizonte era sua casa.

    E foi na vastidão do oceano que o sol fez brilhar um objeto próximo ao navio, aguçando a curiosidade do Capitão. Em vez de pedir aos marujos que buscassem aquilo, ele mesmo preparou um barco e desceu às águas.

    Resgatado, o objeto revelou-se uma belíssima garrafa, de contornos finos e bem trabalhados, com uma carta dentro. Acostumado com as lendas de mensagens em garrafas, o Capitão não se surpreendeu. Remou de volta ao navio e levou o achado para sua cabine.

    Ao som do ranger das madeiras do antigo navio, o homem examinou a garrafa fechada com mais atenção, degustando seus detalhes, quando reconheceu a letra contida na carta que estava lá dentro. Era nada menos que uma mensagem escrita de punho próprio pelo Rei, que tempos atrás lhe prometera terras e um alto posto em seu reino antes de expulsá-lo de seus domínios num dia de fúria. Animado com a possibilidade de ser o destinatário daquela carta, o Capitão prontamente quis abrir a garrafa. Quem sabe que honras poderiam estar reservadas para ele naquela carta? Seria um simples pedido de desculpas da Casa Real ou um convite para um banquete junto das mais importantes autoridades?

    Mas havia um detalhe na rolha, até então despercebido, que selava a garrafa. Escrita de mau jeito e com garranchos estava a mensagem “NÃO ABRA”. O Capitão passou o polegar pela mensagem, pensativo. Ele olhou pela janela, e o céu, antes aberto e claro, agora era tomado por pesadas nuvens.

    Conta-se que a tentação de ter um pedaço de seu passado de volta foi maior, e o homem abriu o invólucro. Instantaneamente, um raio caiu sobre o navio, partindo-o ao meio, rasgando seu mastro de alto a baixo, como se fosse feito de seda.

    Gritos eram ouvidos do lado de fora, e o Capitão saiu de sua cabine para encontrar uma tripulação desesperada, que corria de um lado a outro tentando se salvar. Um forte vento jogava o navio para onde queria nas águas agitadas.

    Sem esperanças, o homem viu um faxineiro que, balde ao braço, esfregava a madeira do convés prestes a ser bebido pelo oceano furioso. O Capitão perguntou àquele homem o que fizera para merecer tal destino. O marinheiro, sem tirar os olhos do trabalho, lhe disse que alguns passados são melhores quando deixados no passado.

    O Capitão pediu que o marujo se levantasse, então pegou uma de suas próprias medalhas e condecorou o outro. Lenta e inevitavelmente o navio afunda. E não se vê mais fogo, e não se ouvem mais gritos.

    A memória é tudo e o caos reina.

  • Cantiga do amor necromante

    Cantiga do amor necromante

    Meu amor por você começou ao luar
    Descortinou-me do medo e do sofrer
    Meu coração se tornou teu altar
    Tomou de rompante o meu bem-querer
    Nada mais podia me ferir, arco ou espada
    Tu eras minhas segurança. Teu rosto, minha morada

    Meu amor por você começou como um estampido
    Fez do enlevo, minha mãe, e da plenitude, meu pai
    Sua sutileza e inteligência mantinham meu sentimento impelido
    Como o ar que alimenta o fogo, como o rio que o oceano atrai
    Como o sol idílico que mantém tua beleza iluminada
    Como a manhã que escancara os portões da alvorada

    Meu amor por você terminou como uma carta sem assinatura
    Me fez olhar pro celular vazio, buscando tua ternura
    Como a sensação da lágrima seca no rosto
    Como a vida irrecuperável de um cadáver decomposto

    Meu amor por você terminou suprimido pelo barulho da cidade
    Pelo seu comportamento estranho
    Por eu não ser capaz de entender a verdade
    Pelo meu descontentamento tamanho

    Meu amor por você terminou depois que cansei de ser
    Visualizado e não respondido
    Dirigindo na Bandeirantes, o carro a 120, o volume no 26
    Ouvindo Latino

    Nunca comento meus textos, mas esse vale uma explicação pois, como diz o Marcelo Rezende “BOTA NA TELA, MINHA FILHA! DÁ TRABALHO PRA FAZER!”. E esse deu um trabalhão, mas VEM COMIGO!

    A estrutura dele nos dois primeiros versos (ABABCC) é inspirada na métrica d’Os Lusíadas. Esses versos falam quase que exclusivamente de coisa surreais, que não fazem parte do mundano. É assim para mostrar o lado fantástico, poético e bonito de uma paixão. Aquela coisa que faz a gente flutuar igual um drone.

    Já os três últimos versos têm métricas confusas, misturadas, e nem sempre se preocupam com uma boa rima. Eles falam de coisas palpáveis, do nosso cotidiano. São cenas mais tangíveis e menos bonitas, refletindo o desgosto, o descaso e um certo arrependimento, uma vontade de que as coisas não caminhassem praquele lado. Há um pouco de humor pra tentar encobrir a tristeza.

    Há também uma métrica numérica que não vou comentar aqui. Se você descobrir qual é e sacar o motivo dela, escreve aqui pra mim nos comentários 😉

    Esse poema mostra dois lados da nossa vida. Dois lados que são igualmente importantes, pois a nossa história não é e nem deve ser construída só de felicidades, mas também das lições trazidas pela tristeza. Enquanto nossos sonhos e vontades mantém nossos olhos e corações mirando o horizonte ensolarado, nossas decepções e prantos reforçam nossos pés para que não se abalem pelas intempéries da vida. Separados, nos deixam imaturos ou depressivos. Juntos, pavimentam nosso caminho rumo ao extraordinário.

     

  • Digressão

    Digressão

    No princípio, tudo era sem forma e vazio. Meus dias passavam sem novidades, como quem flutua eternamente na escuridão. Eu não tinha esperanças de que as coisas pudessem mudar. Minha noção de livre arbítrio foi sufocada quando percebi que era apenas um pedaço de carne, restringido por minhas próprias limitações. Quem olhasse pra mim e visse minhas deformações, sentiria pena. Mas você, não. Você era diferente.

    Não me lembro exatamente do dia em que te conheci. Foi mais como se, aos poucos, eu te percebesse em cada detalhe da minha vida. Eu ouvia tudo o que as pessoas diziam a respeito de nós dois, tanto as partes boas quanto ruins. Reagia, mas meus gritos não eram ouvidos. O que conta de verdade é que éramos parte um do outro, ligados da maneira mais forte e profunda que um ser humano pode experimentar. Você me nutria com amor, e era tudo o que eu precisava para me sentir vivo e querido.

    Aos poucos eu ganhava forças e aprendia a distinguir o gosto da felicidade. Já não estava mais desfigurado como antes. Mesmo que sozinho eu ainda não conseguisse encarar o mundo, isso não me preocupava, pois tinha certeza de que você me protegeria até que eu pudesse te proteger também, dividindo as dores. Ali, contigo, eu pude vislumbrar a essência do que é estar vivo. Ossos, tendões e carne. Fôlego. Tudo o que eu queria era estar em seus braços. Você me olhava nos olhos, e minha maior alegria era poder te ver.

    Formas e cores povoavam meus sonhos quando sua voz me acordou durante a noite. Não tive tempo de entender o que estava acontecendo, mas era amedrontador. A liberdade havia durado muito pouco. Meu corpo cambaleou bruscamente enquanto eu gritava por socorro. O cheiro da podridão invadia meus pulmões e o barulho dos ratos me assustava. Por que você me abandonou aqui, mamãe?

  • Etéreo

    Etéreo

    Eu vi você. Te amar era a única coisa que fazia sentido pra mim depois daquele momento.

    E eu te amei.

    Talvez eu consiga me perdoar por esquecer das suas roupas, dos seus filmes favoritos, do jeito como você gostava que os móveis de casa ficassem… Mas nunca vou me absolver por ter esquecido da sua voz, da cor dos seus olhos. Te amar foi a mais fascinante forma de autoflagelo que conheci.

    Depois que você se foi, decidi não ir mais a lugar algum. A comida já não tinha mais gosto, as palavras já não tinham mais significado. A água já não matava a sede.

    E se passaram dias. E se passaram meses. Ninguém me procurou pra saber de mim. Nenhuma visita, nenhum telefonema, nenhum e-mail, nenhuma mensagem. Nada.

    Já não fazia muita diferença. Deitei no meu sofá e esperei.

    E esperei.

    E o dia que eu esperava chegou. A porta da sala se abriu. A luz vinda de fora mostrava a figura que eu tanto quis ver novamente. Aquele era o momento mais feliz da minha vida. Era você!

    Você viu apenas a TV ligada e meu corpo estendido no estofado, naquela sala onde já esteve tantas e tantas vezes. Se aproximou e se recostou no meu peito, sentada no chão. Te ouvi chorar e chorei junto. Te perdoei e sei que me perdoou também.

    Eu tentei acariciar seu cabelo, mas já não eram minhas mãos. Tentei te abraçar, mas já não eram meus braços. Chamei seu nome e uma voz ecoou pela sala. Não era minha voz.

    Tremendo e com os olhos cheios de pavor, você se virou e tocou na minha testa gelada. Tão rápido quanto a compreensão lhe veio, você se foi, gritando.

    Agora estou com você para sempre.

  • Romantismo Sofista na era da Selfie – Ato 1

    Romantismo Sofista na era da Selfie – Ato 1

    oloco gata

    O fulgor de seu rosto me fez esquecer as feridas do passado
    E tomado de vívido encanto, me desfiz da solidão que havia jurado

    Meus olhos degustam cada movimento de seus lábios rubicundos
    Que me traduzem a vida em seus sentidos mais amplos e profundos

    No dia da agonia, quando estiver aflito e tomado por todos os meus medos
    Quero me recostar no teu colo e sentir suas brandas mãos em meus cabelos

    Os mistérios do universo me são revelados à medida que te conheço
    E de fascínio estremeço, apaixonado te enalteço e em pensamentos me desfaleço

    Suas intenções me são ocultas, e vacilo em compreender se me corresponde
    Por que você visualiza e não responde?

    -Zago, R. em “Romantismo Sofista na era da Selfie”, 2016.