Eu vi você. Te amar era a única coisa que fazia sentido pra mim depois daquele momento.
E eu te amei.
Talvez eu consiga me perdoar por esquecer das suas roupas, dos seus filmes favoritos, do jeito como você gostava que os móveis de casa ficassem… Mas nunca vou me absolver por ter esquecido da sua voz, da cor dos seus olhos. Te amar foi a mais fascinante forma de autoflagelo que conheci.
Depois que você se foi, decidi não ir mais a lugar algum. A comida já não tinha mais gosto, as palavras já não tinham mais significado. A água já não matava a sede.
E se passaram dias. E se passaram meses. Ninguém me procurou pra saber de mim. Nenhuma visita, nenhum telefonema, nenhum e-mail, nenhuma mensagem. Nada.
Já não fazia muita diferença. Deitei no meu sofá e esperei.
E esperei.
E o dia que eu esperava chegou. A porta da sala se abriu. A luz vinda de fora mostrava a figura que eu tanto quis ver novamente. Aquele era o momento mais feliz da minha vida. Era você!
Você viu apenas a TV ligada e meu corpo estendido no estofado, naquela sala onde já esteve tantas e tantas vezes. Se aproximou e se recostou no meu peito, sentada no chão. Te ouvi chorar e chorei junto. Te perdoei e sei que me perdoou também.
Eu tentei acariciar seu cabelo, mas já não eram minhas mãos. Tentei te abraçar, mas já não eram meus braços. Chamei seu nome e uma voz ecoou pela sala. Não era minha voz.
Tremendo e com os olhos cheios de pavor, você se virou e tocou na minha testa gelada. Tão rápido quanto a compreensão lhe veio, você se foi, gritando.
Agora estou com você para sempre.
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