Lidando com a indiferença (e outras reflexões)

escolhe aí gato

Indiferença é uma das piores coisas pra mim, e mesmo que eu mesmo já tenha sido indiferente com as pessoas algumas vezes, o peso continua. Na real, fica até um pouco maior, pois mistura a culpa com a tristeza da rejeição e aí vira aquele bolo sabor lágrimas que você encontra nas melhores padarias do ramo.

Penso que receber a indiferença de alguém é pior do que receber a rejeição. Informação é o maior poder humano, e saber que você tem uma imagem negativa (por exemplo) já te dá uma base pra refletir e agir a respeito, conforme o que você julgar melhor, mas ser tratado na base do “tanto faz” te deixa completamente no escuro. Receber o famoso “leu e não respondeu” de quem parecia gostar da sua companhia dias atrás ou ter conversas sobre temas importantes pra você abortadas logo de cara é um indicativo ruim, mas que abre um leque de possibilidades do mesmo tamanho da sua mente. Você não sabe o que fez de errado (ou mesmo SE fez algo errado). Não sabe se alguém falou mal de você (ou mesmo se há algo de tão mal que possam falar a seu respeito que desencadeie esse tipo de ração). Não sabe se você é desinteressante, não sabe se a pessoa é bipolar. Não sabe de nada. E não saber de nada é uma das maiores dores (pra mim, ao menos).

Parece que nada do que você fale ou faça vai surtir algum efeito, saca? Nem elogios sinceros são correspondidos. Pensamentos considerados por outros como ideias únicas e até mesmo piadas suas que você sabe que nunca falham (aquelas que até o mais ranzinza deixa escapar um sorriso de leve), têm cheiro de nada. Têm gosto de arroz sem sal.

Cara, como a indiferença é uma merda!

É um muro tão alto quanto a vista alcança, mas que te permite escutar o que acontece do outro lado. E muitas vezes você sente inveja de quem tá do outro lado. De quem conseguiu tirar aquele sorriso que você queria ter tirado, de quem conseguiu fazer a pessoa contar aquela história que aconteceu hoje no almoço com uma mulher sem noção na fila do caixa e, nossa, como alguém consegue cantar Wesley Safadão no meio do restaurante? Muito sem noção, né? hahahahahaha.
Sente inveja de quem indicou aquela música legal pra caramba e, poxa, podia ser uma da sua playlist. Você também tem músicas legais pra mostrar. Também tem filmes pra indicar, livros pra emprestar. Não que você seja grudento ou imaturo, mas você só quer um pouco de atenção. Só quer proporcionar coisas boas. Você tem carinho e vontade de ser o melhor você até hoje, mas parece que isso não basta.

O seu melhor não foi suficiente nesse caso.

Dói assumir isso. Mexe com sua vaidade. Quebra a sua vaidade. Joga sua vaidade no espaço, que é pro vácuo suprimir o barulho dela explodindo e a culpa ser menor. Ou talvez nem tenha culpa, porque talvez a pessoa seja inocente na história, e esteja tão sufocada nas coisas dela que não conseguiu te perceber. Será que você não agiria igual? É aí que eu costumo ficar desgraçado da cabeça de vez. Pode ser que a indiferença esconda um “hoje, não. Amanhã, talvez”. Pode ser que só esconda seu papel de trouxa. Não dá pra saber. E aí? Vale a pena esperar o amanhã? Mesmo sem garantia de nada?

Se eu conseguisse só enxergar um pouquinho pela fresta da porta, poderia dizer se vale. Mas não consigo enxergar, e sem saber de nada, posso tomar uma decisão errada.

Dizem que a gente não deve correr atrás, mas os dias de silêncio me deixam bem aborrecido. Não costumo ser um bom ator.

“Eu fiz tudo o que pude e carreguei o máximo que consegui carregar sozinho” deveria consolar, e algumas vezes consola, mas em outras você é apunhalado por suas ideias do mesmo jeito. A Lei da Semeadura nem sempre funciona, e a gente deve ser humilde pra assumir que nem sempre as nossas ações vão impactar positivamente o curso da nossa própria vida.

Hoje, eu só quero que a minha história continue.

Fica só entre eu e você, mas uma das coisas que mais gosto é observar as luzes da cidade durante a noite. Esse texto aqui é um pequeno escape de uma parte de mim, mas existem muitas outras partes (mais legais e charmosas, se você me permite o comentário). Daria pra alongar esse raciocínio por um tempão, mas perceba que aqui eu tô só falando sobre mim. Quando eu vejo as luzes todas acesas, uma das coisas que penso é que cada luz contém pelo menos um desses universos particulares. Assim como o meu. Assim como o das pessoas que me amam. Assim como o das pessoas que não gostam de mim. Assim como o das pessoas que me tratam com indiferença. Tão bonitos e assustadores quanto o meu.

A cabeça gira na velocidade máxima com as lembranças boas e ruins, com as indagações sobre quem está por trás de cada luz em cada casa, em cada prédio, em cada carro. Quais são suas esperanças e medos. Perceber que o ser humano, mesmo sendo tão frágil, passageiro e efêmero é essa máquina complexa formada por engrenagens adquiridas de outras máquinas, que vieram de outras máquinas, e de outras, e de outras. Engrenagens capazes das melhores e das piores coisas. Todos os sentimentos de tristeza, felicidade, indiferença e afeto ficam pequenos diante dessa ótica.

E está tudo ali, na sua frente. Fascinante, cotidiano e esmagador. São apenas luzes, mas é muito mais.

Nessa miríade de pensamentos, o caos faz tudo se chocar de novo e de novo. Eu já não pensava sobre o que tinha acontecido pra eu ser deixado “no gelo” e ser tratado na indiferença, e aos poucos as ideias vão voltando ao estágio inicial, mas ainda não. O caos mostra o quão profundo você consegue ser, e o quão raso você consegue mergulhar na vida de alguém. Instinto e lógica de mãos dadas. Entre as milhares de vozes falando, gritando, ecoando e rebatendo nas lembranças, há paz. O caos te abraça. Conforta.

Cada ideia é um caminho, e entre esses inúmeros caminhos, o seu norte vai sendo revelado aos poucos. O seu cérebro ainda vai passar pelo liquidificador mais vezes, e apesar do processo ser dolorido, faz muito bem. Mais uma vez, me vejo obrigado a agradecer pela dor (sim, de novo, pois já estive nesse lugar muitas vezes). É esquisito ser grato pelo que te tira o conforto, mas muito do que eu admiro em mim mesmo, consegui desta forma. No fim, não sinto raiva ou algo ruim, apenas vontade de que as coisas funcionem, saiam da indiferença e que sejam como nunca foram antes.

Passar pelas tristezas me faz mais forte a cada vez, e me mostra caminhos que até então eu não tinha a sabedoria suficiente pra enxergar. Pode ser que num deles eu consiga contornar o muro da indiferença. Pode ser que amanhã o muro caia e a gente consiga se entender como eu gostaria. Pode ser que meus caminhos me levem pra tão longe quanto possível.

Eu não sei.

Nessa hora da madrugada eu só sei de três coisas:
– Deus é hors concours.
– O Silvio Santos devia voltar com o Topa Tudo.
– Esse texto tá grande demais.

Sério. Gastei 3cm de dedo digitando.

Aprendi que o remédio é sempre continuar caminhando. Viver um dia após o outro. Você só vai afetar a pessoa até onde ela deixar, e nada mais, então o melhor é cuidar de você e ser alguém fantástico. Isso abre mais portas do que somos capazes de imaginar.


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