Das coisas boas que o ano de 2003 trouxe de bom para o progresso da raça humana, poucas se igualam ao lançamento do Acústico MTV Charlie Brown Jr.
Na época, chegou a ser crime passível de cadeia para o brasileiro menor de 20 anos se ele não escutasse e idolatrasse essa obra musical.
Como um bom cidadão que sempre andou na lei, eu não era exceção. No auge dos meus 13 anos de idade, esse acústico formava basicamente 100% da minha dieta musical. Era isso e o CD O Tempo, do Oficina G3.
Infelizmente, uma dolorosa experiência me impediu de consumir as músicas desse aclamado álbum sem ter lembranças ruins. Mas foi bom enquanto durou. “Tudo o que é bom dura tempo o bastante para se tornar inesquecível.”
Era a última semana de aula na escola. Poucos pais mandavam seus filhos para a escola nesses dias. “Às vezes faço o que quero, às vezes faço o que tenho que fazer”, e aquele dia eu tive de ir à escola.
Naquele dia, eram tão poucos alunos que juntaram todas as meninas da escola numa sala e todos os meninos na outra. Nos instruíram a criar decorações para uma festinha que teria no último dia de aula.
Entre tintas, lápis de cor e folhas de papel, havia um rádio que tocava CD. Acho que era mini system o nome disso, né? Pera aí, deixa eu pesquisar aqui.
É, acho que é isso mesmo. Divago.
Pedimos para a professora de artes que deixasse a gente a gente ouvir o Acústico Charlie Brown enquanto fazíamos nossas decorações desprovidas de qualquer capricho. Incrivelmente, ela deixou, e aí o amigo que havia levado o disco pra gente ver (sim, isso já foi moda nas escolas. Levar CDs e jogos só para os amigos verem hahahahahaha) ligou o som.
Não lembro do nome do cara que era dono do CD, mas um nome eu jamais esquecerei: Guilherminho.
Guilherminho, como o nome sugere, era um menino miúdo, bem baixinho mesmo. Foi durante a faixa “Não Uso Sapato” que ele teve uma ideia que soou genial aos ouvidos de todos: E se a gente fizesse uma rodinha de porrada todos contra todos?
A professora ficava alternando entre as salas dos meninos e das meninas para supervisionar ambos os grupos. Dada a dedicação maior das meninas, a professora passava muito mais tempo na sala delas. Tínhamos o cenário perfeito para nosso mini Clube da Luta.
Afastamos as carteiras e dado o sinal, todos corremos para o centro da sala enquanto o rádio tocava a sangrenta balada.
“Não possuo a cognição suficiente para criar versos poéticos
Às favas!
Sinto ojeriza por gente abastada, eu não calço sapatos
Às favas!”
Antes que eu pudesse desferir meu primeiro golpe, Guilherminho apareceu na minha frente e me acertou um soco na boca do estômago.
Perdi o ar. Cambaleei pra trás e me sentei encostado à parede, arfante. Assisti os demais se batendo, como um UFC particular ao som do Acústico MTV.
Mantive a compostura e segurei as lágrimas. Um Chorão já era o suficiente para o momento.
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