O dia em que eu descobri que não tinha talento para assassinatos em massa

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Hoje em dia, talvez eu seja uma das pessoas mais altas que você conhece. Sempre fui o mais alto da turma na escola e, embora me zoassem por isso, não era algo que me incomodava. Na real, lá pelos meus 7 anos, eu até gostava de ser visto como o grandalhão, pois era escalado para todas as galhofas que envolviam esconder ou capturar coisas em alturas consideradas “à prova de criança” pelos professores.

Ser o mais alto, naquela época, me rendeu gostosas gargalhadas, mas, como em tudo que escrevo aqui, você já deve imaginar que isso me ferrou de alguma forma. É por isso que eu gosto de você que, com sua audiência, é sinal de prestígio para o blog Detexto.

Continuando a história, lembro de uma menina daquele tempo (que vou chamar aqui de Priscila, pois esse era o nome dela) cuja mãe era, digamos, não muito sensata. Pra você entender o naipe da mãe da Priscila: Teve um dia que a mulher apareceu na escola portando um estojo com os 2 VHS do Titanic e uma “bijuteria” (na real, era um colar de brinquedo) que imitava a joia da protagonista. E sim, a tia estava usando como se fosse a cena do “quero que você me desenhe como uma de suas francesas”, só que sem estar pelada, sem estar em um sofá e sem estar num navio prestes a afundar. Eu não sei quantas vezes na vida você ficou tão feliz com uma compra que decidiu levar pra professora da sua filha ver no horário de aula dela, mas essa mulher estava contente a esse ponto.

Confesso que eu até achava ela bacana, bem animada e tal, mas ela quase me fez aparecer na capa dos jornais como um assassininho mirim, desses que a TV bota a culpa no videogame, mas como eu só jogava Donkey Kong, não sei como fariam esse link. Foi no ano seguinte à história do Titanic, bem no primeiro dia de aula, no recreio. Todo mundo falando de suas coleções de Tazo, dos desenhos novos da TV Globinho (ainda era a época do Caça Talentos. Quem lembra?) e correndo pelo pátio alucinadamente. Havia uma mãe ali também. A mãe da Priscila.

Eu estava descansando depois de dois rounds de Pega-Pega, quando a mulher parou com a menina perto de mim e disse:

-Não fica perto de menino grande assim, que eles vão te bater e depois você vai pra casa chorando.

Hoje eu entendo que isso foi muito mais um inadequado “não bata na minha filha” pra mim do que um recado pra menina. Eu nunca tinha dito nem oi pra garota.

Priscila fez que sim com a cabeça e eu sai dali calado, meio desgostoso da vida, tipo o Chaves no episódio do Sr. Furtado. Fiquei me questionando se eu era mesmo aquele Godzilla que parece um gigante gente boa, mas só vem pra esmagar cidades e sonhos, porém logo desencanei da ideia. A raiva não durou muito. Lembrei do Seu Boneco (da Escolinha do Professor Raimundo) e repeti mentalmente “Eu vou pa galeeeera” enquanto ia trocar ideia com os amigos.

Mesmo que eu quisesse ter ódio da tia por causa daquele comentário tosco a meu respeito, crianças de 7 anos não costumam ter muito crédito no mercado negro de armas de fogo, e minha mãe me falou um dia pra ficar longe de facas porque podia me machucar, então minha carreira de homicida infantil em potencial foi enterrada ali.

Confesso que me arrependo de ser tímido e nunca ter feito nada pra mudar a ideia da Priscila a respeito de meninos altos. Quem deve me agradecer até hoje é o anão com quem ela casou recentemente.

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