Quando criança eu era um grande apreciador de festinhas infantis. Os balões coloridos, a música feliz interpretada por alguma apresentadora de TV loira, os salgadinhos, a decoração de isopor colada na parede, os amiguinhos da escola reunidos sem a premissa de adquirir conhecimento… esses eram alguns dos ingredientes que tornavam as festas de aniversário em momentos mágicos extremamente aguardados pela grei mirim, tal qual o sorteio da Tele Sena é aguardado pelos aposentados.
Certo dia meu melhor amiguinho na época (estávamos todos completando 10 anos) me convidou para comemorar sua primeira década de existência. “Meu aniversário vai ser de helicóptero”, me informou ele sobre o tema da festa. Munido de um Super Trunfo de helicópteros para presenteá-lo (todos os garotos da minha sala na escola colecionavam Super Trunfo. Guarde esta informação), fui com minha mãe para a casa do menino, onde seus familiares e os demais gazelos que estudavam conosco se encontravam. Passamos horas jogando Super Trunfo até que alguém nos informou que era o momento dos parabéns. Cantamos o consagrado hino, desejando muitas felicidades e anos de vida ao colega, voltando no segundo seguinte ao jogo, que estava disputadíssimo.
Enquanto eu surrava a molecada no Trunfo, ganhando a rodada por conta do alto valor de cilindradas da moto ilustrada em meu card (ok, confesso. Essa parte das cilindradas eu inventei pra parecer mais descolado. Não lembro qual a jogada exata e muito menos se eu estava vencendo. Agora pare de me importunar questionando detalhes e me deixe continuar a história. Que coisa!) o querido amigo chegou com um pedaço de bolo nas mãos e me ofereceu. Àquela altura eu já estava empanturrado de brigadeiros e coxinhas, então agradeci e recusei educadamente (sempre fui um gentleman, mesmo na época em que nem sabia como se soletrava essa palavra). Ele voltou cabisbaixo para a cozinha, mas sequer percebi o que havia acabado de fazer. Ao chegar em casa, minha mãe me perguntou o porquê de eu não ter aceito o bolo, pois o garotinho separara o primeiro pedaço para mim (calma! Essa ainda não é a pior parte).
Semanas depois foi a minha vez de ficar menos novo. Meus pais decoraram a casa com o tema “101 Dálmatas”. Chamei todos os contatos do meu network para participarem das festividades. Me lembro de ter cogitado usar um terno na festa, mas nunca tinha visto criança de terno, então achei que isso não existia e desisti da ideia. Chegado o grande dia, aquele mesmo amigo do bolo me deu de presente um pequeno pacote retangular. Ao rasgar o embrulho, um bonito trator amarelo estampava a capa do Super Trunfo de tratores. Como a única razão desse texto existir é relatar uma desgraça, você já deve ter imaginado que eu já tinha esse baralho. E eu tinha mesmo.
Um dos amigos que sabia disso, movido pela satanagem, sugeriu: “ei rafa mim da ese supre trunof repitido kkkkkkk”. Em minha inocência infantil, não vi maldade naquilo e entreguei o brinquedo ao menino, causando instantaneamente um choro compulsivo em meu melhor amiguinho. Meu pai me falou pra pedir desculpas e trocar o Trunfo com o amigo #2, ficando com o novo pra mim, mas já era tarde.
Nunca mais ganhei outro Super Trunfo.
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