O dia em que o zelador da escola pensou que eu fosse um matador de aluguel à paisana

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No colegial eu tive a oportunidade de estudar num dos colégios mais legais da cidade, e lá eu fazia parte do Clubinho do Metal (a gente não se chamava assim. Acredito que fosse “Diabretes do Augúrio Pantanoso”, ou algum nome que você esperaria de adolescentes de 16 anos que pagam de barra pesada mas chegam em casa e pedem pra mãe fazer um Nescau morninho). Em certa ocasião, um dos membros do Clubinho ganhou um CD de Rap chamado Entre a Adolescência e o Crime, e levou para que pudéssemos apreciar o material.

Todos concordaram em destruir o produto, então fomos a uma espécie de varanda da escola, onde eu puxei o disco e o arremessei numa parede ao lado de uma porta, com a destreza de um atirador de facas circense, mas sem a força para quebrar a parada de fato (imaginei). Enquanto o reluzente CD viajava pelo ar, o zelador da escola abriu a porta e acompanhou lentamente o disco se chocar contra a parede e destruir-se de maneira hedionda em pelo menos 79 pedaços.

Gentleman que sou (e com a calça borrada pois o CD havia se quebrado apesar da minha intenção de não fazê-lo E por ter sido pego no flagra por uma autoridade estudantil), me prontifiquei a limpar imediatamente a bagunça e me desculpei com o zelador (também não me lembro o nome dele. Devia ser Pedro, então o chamarei daqui em diante de Sr. Antonio).
O sr. Antonio era uma figura pacata e benevolente, assim sendo, aceitou minhas desculpas ao som do riso dos galhofeiros ao fundo.

Mas não acabou por aí. Pro fim do intervalo, um amigo inspirado por minha façanha decidiu arremessar a caixinha do álbum no andar de baixo. Eu olhei pela varanda e a cena não foi das melhores. A embalagem espatifada pairava a poucos centímetros do zelador, que me olhou de volta, assustado. Eu queria muito rir, mas a partir daquele momento, o autor do atentado havia sido eu, na cabeça do sr. Tony (ó que moderno o apelido). Constrangido, apesar da inocência, voltei para a sala de aula.

Me sentei ao lado de uma das janelas. Um erro imperdoável nesse dia. Nossa sala ficava no segundo andar, e estava muito calor. Durante a aula, já esquecido do meu ato terrorista, fui abordado pela moça que sentava na carteira atrás da minha, me pedindo licença para abrir a janela (que era dessas de abrir na diagonal). Antes que eu respondesse qualquer coisa, ela empurrou a janela e, para o espanto de ambos, o vidro se soltou e caiu no andar de baixo, fazendo um estrondo colossal. Curioso, olhei para baixo, visualizando o sr. Antonio me observando com a maior cara de pavor com a qual um ser humano já me olhou.

Antonio nunca mais quis ser meu amigo.


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