Os historiadores talvez não gostem deste relato pois não sei dizer com precisão quando foi a primeira vez que me ocorreu a ideia de organizar uma festa surpresa pra mim mesmo. Penso ter sido aos 10 anos, mas pode ter sido aos 8 ou aos 12.
Há alguns anos, entretanto, a ideia desta empreitada se reacendeu em minha mente. “Preciso fazer uma festa que as pessoas se lembrem sempre que forem convidadas para outras festas surpresa”. Eu seria o Bilbo Bolseiro às avessas, aparecendo em meio à comemoração como um comercial da Jequiti no meio dos programas do SBT.
Contei a ideia para minha namorada na época e para minha irmã (como a festa seria na casa dela, penso que foi cortês e educado avisá-la com antecedência). Ambas adoraram o plano e, de posse da lista de convidados, criaram o famoso Grupo do Zap com todos os envolvidos.
Chegado o grande dia, arrumamos a casa para receber os convidados. Quando a campainha tocou, fui correndo me esconder no quarto, e ali começou um dos momentos mais especiais da noite. Pude ouvir meus amigos chegando e conversando, alguns ansiosos com o que eu acharia da festa, outros conversando com pessoas que não viam há algum tempo. Sozinho no quarto escuro, me alegrava com cada novo convidado que chegava, tentando adivinhar quem era pela voz.
Foi quando eu não conseguia mais entender as conversas, de tanta gente e tantas vozes, que entendi que a festa tinha dado certo. Reunir pessoas tão especiais pra mim num mesmo lugar e ver que elas estavam tendo um good times foi o meu maior presente naquela noite.
Depois de algum tempo, o silêncio tomou conta. As luzes se apagaram e recebi uma mensagem. “Pode vir”. No que fui abrir a porta para sair do quarto, a campainha tocou. Retrocedi assustado.
Acontece que meu cunhado estava tentando fazer as coisas mais emocionantes, mas minhas comparsas não me avisaram. Essa cena se repetiu mais duas vezes. Decidido, abri a porta novamente. Lento e silencioso, caminhei nas sombras.
Chegando à cozinha, pude ver os convidados de costas na penumbra. Exatamente como eu havia planejado. Naquele momento, muitas coisas passaram na minha cabeça. Pensei que alguns poderiam não gostar da brincadeira, ou que poderiam até passar mal de susto. Lembrei do aforismo “há um milhão de motivos para não se fazer qualquer coisa”, e motivado por ele, pensei que estava prestes a proporcionar uma experiência única, tanto para aquelas pessoas quanto para mim. Esse era o motivo capaz de vencer o um milhão de negativas.
Me considero um homem abençoado por ter amigos com gostos tão diferentes. Músicos, nerds, escritores, esportistas, filósofos, malucos… todos ali, prestes a vivenciar algo novo. Podiam reagir como quisessem, mas eu tinha certeza que pelo menos um sorriso de cada um eu conseguiria tirar.
Mentalizei “a morada do homem é o extraordinário”, de Heráclito, e com toda a força dos pulmões, gritei SURPRESAAAAAA!
Tudo o que eu ouvi foi uma confusão de vozes, até que alguém acendeu as luzes e pude ver os rostos de todos, que riam, comentavam, se indignavam, se alegravam e riam de novo. Pude abraçar um por um, e dizer que estava muito feliz com sua presença (e eu estava mesmo, pode acreditar).
O calor desse momento é algo que vou me lembrar pra sempre.
Quem também vai lembrar é quem estava mais para o fundo e me ouviu gritar como se sua orelha fosse um megafone. Em minha defesa, tenho a dizer que THIS IS THRILLER! THRILLER NIGHT! AND NO ONE’S GONNA SAVE YOU FROM THE BEAST ABOUT TO STRIKE!
Muitas felicidades. Muitos anos de vida.
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