Então. Eu sou bunda mole pra caramba no que diz respeito a atividades radicais. Mas não é aquele medo tipo “oooooohhh! Que meeeedo”, é aquele medo tipo “MEUDEUSSSSSQUELOUCURAMETIRADAQUICADÊMINHAMÃE”. Sério, se tivesse uma equação pra medir a flacidez dos meus glúteos em momentos de adrenalina, ela seria “medo = altura do rafa² x medo de cachorro x medo de calopsita” (Sim, eu sou um cara de 2 metros de altura e tenho medo de cães e aves que sejam muito agitadas. Não julgue, é feio).
Agora que você sabe que eu sou este medrosão a la Scooby Doo, aí vem o plot twist da coisa: eu gosto muito de ir ao Hopi Hari. Muito mesmo. Sempre que eu tenho dinheiro e alguém me convida, estarei lá. E antes que você venha dizer “Ah, Rafael, seu grande pateta! A mim você não engana. Acabou de dizer que é cagão e agora vem com esse papinho?”, eu explico. Tenho uma tática que consiste em pegar a fila dos brinquedos hardcore com meus amigos e, ao chegar na minha vez, pulo pro outro lado e saio junto com quem está saindo da atração, evitando assim o constrangimento público de ser um amarelão. Sempre foi tudo ok, mas houve um dia em que as coisas não deram muito certo pra mim. Quando eu tinha uns 18 anos, pressionado por meus amigos que queriam demais me ver em algum brinquedo emocionante, topei ir ao barco viking. “É só uma gangorra gigante”, pensei equivocadamente. Enquanto conversava com o pessoal na fila, notei que havia um anão no aglomerado. E não notei pela altura dele, mas pela altura da fala. O anão parecia uma versão hobbit do Sergio Mallandro. “Este anão ainda me prejudicará de alguma forma”, previ.
Quando chegou minha vez, a tática para superar aquela situação-limite (lembre-se: eu sou bunda mole e tava com as pernas tremendo) foi sentar na fileira mais próxima do centro do barco, que parecia se mover menos. O anão galhofeiro já foi pra ponta do brinquedo, sugerindo ao operador que fizesse o barco viking girar 360°. Antes que eu pudesse jogar meu sapato nele, uma belíssima moça sentou-se bem à minha frente, no lado oposto do brinquedo. Com cabelos sedosos e um sorriso mais encantador que o luar na primavera, todo o meu medo parecia diminuto perto da beleza arrebatadora dela. E a distância entre nós era pouca, o que facilitava a troca de olhares. Era como uma visão do Eden, coroada pela luz resplandecente de mil estrel… EITA! LIGARAM O BARCO! Apreensivo, segurei firme na trava de segurança. Meu estômago imediatamente me odiou. “Segura essa náusea aí, Brad Pitt. Quero ver você xavecar agora kkkkk”, ouvi ele ironizar baixinho. Fixei meu olhar num único ponto para evitar que o pior acontecesse. Esperto, escolhi como ponto os olhos da moça, que também ficou olhando para mim enquanto gritava junto com a galera: “BOTA PRA SUBIR! BOTA PRA SUBIR!”
Mas havia uma voz destoando do coro. Era o anão. “VAI MAIS ALTO! TÁ MUITO DEVAGAAAAAAR”, ele urrava. Não parava de gritar por nada, sempre atiçando o funcionário do parque a aumentar a força do negócio. O desgraçadinho tava fazendo uma espécie de stand up enquanto balançávamos pelos ares, e todo mundo no fundão ria das coisas que ele falava (queria reproduzir as piadas dele aqui, mas infelizmente eu só consegui entender os berros) Quando o balanço do barco estava chegando ao fim, o pequenino berrou que queria ir mais uma vez, sendo acompanhado no pedido pelos demais ocupantes. O funcionário disse nos falantes que ia ligar de novo, e pediu que quem quisesse sair erguesse os braços. As células do meu corpo gentilmente avisaram: “nós não nos importamos se vai ser no banheiro ou no sapato da bonitona, mas você VAI vomitar”. Apenas eu ergui os braços. Fui vaiado pela multidão. Saí triste e cabisbaixo, não sem antes dar uma última olhada para a maravilhosa garota e ver o anão ocupando meu lugar e dizendo algo que fez a jovem rir enquanto ele ajeitava a trava do meu ex-assento em volta de sua mini cintura. E, antes que eu esqueça, a náusea passou assim que coloquei os pés no chão. Nunca mais vi aquele alopradinho, mas com certeza ele está se divertindo mais do que nós todos nesse momento.
Lição: Nunca duvide que alguém menor que a sua perna possa lhe passar a perna.
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